O peso que a religião tem nas escolhas políticas já é uma questão que vem sendo alertada e levada a discussão há algum tempo. Afinal, o Brasil é legalmente é considerado um País laico, e decisões baseadas em princípios e dogmas – predominantemente cristãos – reafirmam a nossa laicidade como uma ideia fora do lugar, uma teoria que está apenas no papel.
A laicidade do estado não confere em uma proibição de tratar sobre religião, mas sim, numa amplitude para que todas as religiões tenham espaço. Se nem todas as religiões tem espaço de fala, nenhuma deve ter. E é exatamente o que acontece aqui, 33% dessas mulheres fazem parte da bancada evangélica, em oito anos pelo menos 12 projetos ligados diretamente a religião foram colocados em pauta – sem contar com proibições e permissões baseadas na crença. O cristianismo é a única religião que aparece na nossa câmara feminina, assim, vamos analisar qual o peso da cruz para elas e para nós?
Aqui no Leoas do Norte essa discussão vai além de questionar a religião na política e se amplia a questão de gênero.
Democracia, o sistema do povo para o povo, onde todas as decisões são tomadas para o bem conjunto, mas, qual é o bem conjunto? O bem de todos ou da maioria? Quem é a maioria? A que decide ou a que aceita? Os problemas do sistema político do nosso País começam quando quem está no poder não consegue distinguir o que é o bem da maioria e o que é o bem próprio. Sem entrar em outras questões, levamos a religião, o amado País laico, onde na própria constituição somos abençoados por Deus.
A parte mais polêmica relacionada à laicidade do País é conduzida pelo fato de que a política é feita por um conjunto de pessoas, e estas possuem crenças, dogmas e preconceitos; isso não apenas não pode, como não deve ser negado ou escondido. Mas, entender o quanto essa fake laicidade afeta todas as escolhas políticas, e consequentemente a todos nós – principalmente as mulheres-, minorias absolutas quando se trata de poder.
Para tomar como exemplo, temos o caso do aborto. Primeiramente, a maioria parlamentar é masculina, ou seja, eles não podem engravidar, em segundo lugar, todos que estão naquela posição possuem remuneração suficiente para a manutenção de qualquer gravidez, além de auxiliar em qualquer necessidade psicológica por meio de tratamentos psiquiátricos, terapia e N demandas que a gravidez necessite. Em terceiro lugar, se ainda assim haja alguma possibilidade de fazer aborto, eles iram fazê-lo fora do País, afinal, tem que manter a reputação da tradicional família Brasileira. Mas, ainda assim essas pessoas, que não fazem parte do publico alvo da decisão, decidem pela gravidez de todas as outras mulheres, negando todo e qualquer repertório anterior, luta sofrida, se é uma gravidez de risco, se foi planejada, ou se essa criança terá condições de se desenvolver bem, afinal, após essa decisão que envolve a vida, qual o apoio que essa criança tem do nosso poder?
A decisão contra aborto é tomada, em sua maioria, pelo apoio a vida, pela população cristã acreditar que o feto já é um ser vivo; mesmo que a biologia afirme que até a formação do sistema nervoso aquele indivíduo não sente nada. A partir desse exemplo, muitas outras decisões são tomadas, e vão sendo espalhadas de baixo para cima.
Inerente ao fato de participar ou não de uma religião, é certo entender que são os dogmas religiosos os principais opressores contra as mulheres, a partir destes dogmas todas as outras consequências surgem, o machismo, a submissão.
É importante ressaltar que este não é o intuito da religião, mas no inicio do cristianismo ele foi deturpado pelos inúmeros interpretes e escritores da bíblia, transformando a religião numa forma arma de manipulação feminina em submissão do homem. Hoje falamos da religião cristã, pois esta é a única que se apresenta em nosso clã de vereadoras.
Não deveriam, mulheres no poder, enaltecer dogmas que favorecem o homem, com a mulher em submissão ao mesmo.
Todas as mulheres que estão hoje na câmara dos vereadores tem algum diferencial, seja pelo estudo ou pelo conhecimento da política, elas também tem um papel fundamental de mostrar a verdade para as mulheres, mas isso não acontece.
Vamos usar aqui o exemplo de Michele Collins, a vereadora mais ativa, mas também mais representativa do quanto a religião na política pode difundir coisas negativas.
A Missionária Michele Collins, que foi a vereadora mais votada em 2016 é dona de frases polêmicas como “O fato de uma mulher estar aqui na tribuna não muda o fato de ela ser submissa ao marido. Também está errada a mulher que, após conquistar seu direito e seu espaço ela deixa de ser submissa ao homem. O homem está sim acima da mulher”
Ironicamente ela também possui vários projetos em prol das mulheres, a semana de combate ao feminicídio, tratar de violência nas escolas. Mas o que ela, como figura pública, faz contra isso? São os homens machistas, e num geral da família tradicional brasileira que mais matam as mulheres.
Usando essa voz negativamente ela enaltece o machismo e dá voz a algo prejudicial para todas nós.
Não podemos deixar que o peso da cruz afete as escolhas, não podemos deixar que a cruz pese para todos.